Mas, como a chuva não parasse, a camada de água que já cobria o chão do carandazal ganhava aos poucos maior espessura.
Estávamos patinando em mais de 10 cm desse líquido e estávamos vendo a hora em que os pedaços de troncos não mais bastariam para manter no seco todos os nossos trens.
Apesar da chuva continuar sempre forte, Maneco pegou no machado e derrubou mais uns três carandais. Tirou deles quatro pedaços do comprimento das barracas onde, em cada uma delas, colocou dois nos costados, e por cima, atravessados, os outros pedaços que primitivamente descansavam no chão. Assim, tivemos como uma espécie de soalho que cobria debaixo dele cerca de 15 cm de água.
Esta nova disposição melhorou muito a nossa situação.
Ficávamos no seco e nossos guias podiam então fazer as suas camas debaixo das nossas redes e valer-se de nossos mosquiteiros. Os mosquitos formavam nuvens e não tinham achado melhor cômodo do que alojarem-se, em legiões, desde que começou a chuva, barracas adentro.
A tempestade seguia o seu curso sem querer diminuir sua violência. Os relâmpagos raiavam as nuvens espessas e escuras, que o vento levava rapidamente. O trovejar não cessava e a chuva caía sempre impetuosa e apertada.
No carandazal, a água subia constantemente. A noite pressagia-se péssima.
Duraria ainda muito este mau tempo?
Tínhamos que aguentar debaixo do mosquiteiro na mais profunda escuridão.
Apesar de ter tomado bastante cuidado, numerosos eram os mosquitos que tinham entrado e arranjado domicílio dentro dos mosquiteiros; eles não nos deixavam dormir.
Nenhum meio tínhamos de acender um foguinho.
[link=19607]Ilustração: Mapa mostrando o território reservado aos índios Guaicurus[link]
[link=19608]Ilustração: Travessia de um carandazal da ilha de Nabileque[link]